Prêmio Anu, da Cufa, consagra gente que faz
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O Programa 1 Milhão de Cisternas e o Urucubaca, grandes vencedores da noite - Fotos de Lícias Santos |
Saí do Prêmio Anu noite passada no Theatro Municipal com a sensação de que o Brasil tem jeito. Os 27 projetos sociais e culturais, um de cada estado brasileiro, consagrados no 1º Prêmio Anu, da Central Única de Favelas (Cufa), mostram que tem muita gente no país que abre mão da própria vida para ajudar seus compatriotas com ou sem a ajuda de empresas, governos e instituições como a Petrobras e a Unesco (Criança Esperança). Um homem em Aracaju pede esmolas nos sinais para manter uma creche com 80 crianças, uma mulher foi às lágrimas para contar sua saga em defesa de crianças com necessidades especiais, muitos nascidos em favelas ou moradores de rua que se levantaram com o próprio esforço e cuidam hoje de gente que precisa de ajuda. O ministro dos Esportes, Orlando Silva de Jesus Junior, foi o grande nomeneageado da noite. Criado na Favela de Lobato, em Salvador, ele ascendeu socialmente com muito estudo e esforço. Recebeu o prêmio de sua mãe e de sua esposa.
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Os apresentadores Juliana Alves e Luciano Huck |
A noite teve como apresentadores Luciano Huck, batizado de Anu branco pelo casseta Helio de La Pena, e a morenona Juliana Alves, toda de dourado. O maior prêmio da noite, o Anu Preto (os demais eram dourados) foi para dois ganhadores, eleitos em votação popular. O Programa Um Milhão de Cisternas, do sertão baiano, já beneficiou 60 mil pessoas com a construção de 10 mil cisternas. O segundo foi o espetáculo Urucubaca!, do Grupo Cultural Afroreggae, do Rio de Janeiro, um espetáculo com texto de Jorge Mautner. Na saída do auditório, a turma do Urucubaca! fez uma rodinha em torno do diretor Johayne Hildefonso para uma comemoração ruidosa. A noite terminou com um coquetel oferecido no Assyrius, o salão anexo do Municipal, agora nos trinques, com direito à exposição Centenário de Uma Jóia, da Firjan, com peças inspiradas na história do teatro.
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Os vencedores de Rio Grande do Sul, Rondonia, Roraima e Santa Catarina
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Aliás o Municipal restaurado está deslumbrante. Um tesouro artístico da cidade e do país, impecável nos mínimos detalhes e a platéia aproveitou para muitas fotos por toda parte do teatro. O único senão são as poltronas, de braços e assentos curtos, mas aí culpo a minha compleição física exagerada. Saí de lá meio torto.
Alcione
Os números musicais foram muito bons, com um cenário diferente para cada atração. Cercada por crianças e adultos malabaristas e dançarinos do Circo Crescer e Viver e da Cia de Teatro Tumulto, Alcione abriu a noite cantando Relampiano, de Lenine. Fernanda Abreu, totalmente sintonizada com a música negra, cantou Tudo Vale a Pena (Se a Alma Não É Pequena), de Pedro Luís e Fernando Pessoa. A comadre Sandra de Sá zoou todas com Olhos Coloridos botando a platéia para levantar, bater palmas, cantar, gritar e tudo mais. Ela falou e fez a platéia gritar em alto e bom som: “Sou altamente consciente e confiante e acredito no povo brasileiro.
Sandra de Sá
A Companhia de Dança Ritmos Family, da periferia de São Paulo, deu um show coreográfico com bases afro, hip hop e eletrônica. Os Hawaianos representaram o funk carioca com o número mais fraco da noite e muitos passos de dança que incluíam rebolados e contrações da barriga. MV Bill e Kmila CDD apresentaram O Bonde Não Para, do recente CD Causa e Efeito, mas não deu para entender o que BIll falava com o microfone muito grave. Para fechar a noite, Dudu Nobre entrou com o tema da Grande Família, cantado por parte da platéia e, depois do encerramento, cantou para subir com É Hoje! já com boa parte da platéia de saída para os comes e bebes no Assyrius.
MV Bill e Kmila CDD
O prêmio teve na platéia os moradores de comunidades onde a Cufa atua e sua produção, como ressaltou Fernanda Torres, foi impecável. As únicas celebridades presentes foram entregar prêmios, como Edson Celulari, mas a maioria era da cor mesmo – Lázaro Ramos, Dorina, Helio de La Pena ou comprometidos com o povão, como Regina Casé e Marcos Frota, o homem do circo.
A rapper e diretora do prêmio Nega Gizza e Dudu Nobre
A Cufa escolheu o pássaro Anu Preto para designar o prêmio com a explicação de que se trata de um pássaro discriminado que passa a representar um prêmio que será distribuído todo ano para dar visibilidade a quem faz alguma coisa pela população desassistida deste país. O tema do prêmio nas entrelinhas, assim como uma das razões da existência da Cufa, é combater o racismo no Brasil. Uma amiga negra me disse que, se alguém acha que não existe racismo no Brasil, que nasça com a pele negra para ver o que é bom. Na verdade , ver o que é mau na discriminação ainda forte no inconsciente coletivo do Brasil, tão mais absurda por se tratar de uma nação com mais 50% de negros, mulatos e mestiços. A Cufa não espera cair do céu, vai à luta e está hoje nos 27 estados brasileiros e em 17 países. Em homenagem a ela este blog roqueiro abre a exceção para o Prêmio Anu.
A Cia de Dança RitmoFamily
Ministro dos Esportes, Orlando Silva de Jesus Junior
Jamari França - 08.02.2011
fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/jamari/posts/2011/02/08/premio-anu-da-cufa-consagra-gente-que-faz-361770.asp